Pequenas escolhas diárias mudam nosso dia.

Cinco minutos, no máximo dez, antes de a chuva cair — foi isso que me disse o motorista do táxi. Mesmo assim, eu larguei a bolsa, a mochila e os sapatos na recepção do hotel e atravessei a avenida. A roupa nem de longe era adequada, o macacão ia voltar pra mala cheio de areia, mas iam ser cinco minutos de vento e barulho do mar. Uma combinação que aos meus ouvidos soa como corda e violão.

Meu pedacinho de paz ainda foi interrompido por dois caminhantes. O primeiro, um senhor paulistano que há nove dias estava morando na cidade. Me perguntou o que eu estava fazendo na praia vestida daquele jeito e ali parou para me contar sua saga desde que decidiu jogar o crachá na mesa do chefe e sumir no mundo, como ele mesmo disse.

A segunda, uma mãe gringa, toda despreocupada, com uma criança e uma bola. Estavam em férias, tinham vindo de Zamora. Foi ela a fotógrafa da vez.

Vieram. Foram embora. E aí quem apareceu foi um restinho de sol. Iluminou os barcos de pesca atracados no mar com aquela luz luz de fim de tarde refletida no verde da água, aquela que arranca até suspiros de quem ama capturar lindas imagens. Por um segundo lamentei não ter minha câmera ali.

Daí que fiquei pensando no taxista que me desaconselhou… Eu podia não ter ido por causa da chuva, por causa da roupa, por causa dos sapatos. Ou porque eram só cinco minutinhos, no máximo dez.

Foram pelo menos vinte e cinco. teve o seu João, teve a Trindade, teve o Lio e a bola. Teve luz do sol, vento na cara, pé na areia, barulho do mar… E eu podia não ter ido.

A gente deveria investir mais tempo em ouvir conselhos. Não os que vem de fora, mas esses que brotam dentro da gente em forma de vontade, intuição, saudade, sensação, fé, inquietação, são tantos os nomes e tão pouca atenção dada a eles.

Ficamos assim? Se um dia você achar que cinco minutos são pouco, fique sabendo: nós por aqui não entendemos nada de cinco minutos. O tempo da vida é aquele que a gente decide viver.